1. Quando
a indesejável das gentes chegar
o
que estiver em andamento findará
&
não haverá mãos que o resgate:
o
pão com manteiga sobre a mesa
(mordido
uma única vez)
a
reforma do telhado
(antes
da temporada das chuvas)
o
poema derradeiro
(abortado
na última estrofe –
restando
apenas [talvez]
o
ponto final)
2
pequenas
coisas, de uma banalidade ímpar
exigindo
algum engenho & muita paciência:
encontrar
o carro estacionado em local ignorado
(em
alguma rua nas proximidades –
não
mais que dezenas delas em dois quarteirões)
“alguém
precisa ir alimentar o gato
&
dar de beber às samambaias –
sabe-se
aonde guardava as chaves de casa?”
quitar
uma pequena dívida no mercadinho
(algumas
maçãs, uma garrafa de mel, cachaça –
“não
há nota”, diz o cobrador meio encabulado)
3
o
morto não se enterra sozinho
havendo
em torno diversos encargos:
alguém
que pague tudo (caixão,
carneiro,
lápide)
&
seja justo no rateio entre os familiares –
“a
cada um segundo as suas possibilidades”
cabendo
a outrem a inglória parte
–
quem há de fazê-lo sem se lastimar? –
de
ligar para a mãe
(aquela
que o carregou por 9 meses)
que
antes de se desesperar
encontrará
forças
para
ligar para a manicure
&
desmarcar o horário
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