sexta-feira, 2 de maio de 2008

A Casa

foto: Rafael Nolli

A casa

Dos homens que a ergueram
não restam sequer testemunhas:
um pó de memória que seca a garganta.

De como retiraram o barro das distâncias
e o emularam em célula não restou a sujeira
nas roupas ou o câncer que os consumiu.

De como em fornos cozinharam os miolos
e o caldo das montanhas, nada sobrou:
talvez uma cratera que junte água salobra
ou uma ficha em arquivo de manicômio.

De como chegavam em casa –
felizes por ainda terem os dentes na boca –
nada se sabe. Se há quem o recorde,
não há de dizer algo que valha.

De como suportavam as horas
tendo um copo de lágrima
e um cão para lamber as feridas das mãos
coisa alguma se relata –

ninguém anotou nada em lugar nenhum.
Por certo, os filhos dos que a ergueram
virão derrubá-la.

Disso, todos são testemunhas.



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